domingo, 28 de fevereiro de 2010

Travis - Love Will Come Through



Possuir uma identidade própria talvez seja um desafio para todas as bandas que começam sua carreira em uma garagem, compondo seus primeiros acordes em busca de reconhecimento ou de algum espaço para exibir seu som. Afinal, sem uma identidade se torna até difícil o processo de criação do artista, que pode se perder se não tiver um foco ou uma linha de pensamento para seguir. Se por um lado há bandas que não criam essa tal identidade por toda sua carreira (e isso pode ser favorável se a ideia for surpreender os fãs a cada música), por outro há bandas que não só criam, como abusam desta, ao ponto de você ouvir os primeiros segundos de uma música na rádio que nunca ouviu antes, e dizer: “é daquela banda lá”. Nesse caso, temos como o maior exemplo os escoceses da banda TRAVIS.
Um violão, letras sobre amor, batidas leves, uma voz calma e bonita, e já são seis álbuns de sucesso e shows lotados, seja onde os músicos forem. Com essa fórmula, os escoceses do Travis tiveram que encarar dois obstáculos que poderiam levar a banda a ser apenas mais uma dentre as milhares que surgem toda semana; primeiro, como evitar a mesmice e a repetição de som ao fazer tantas músicas com temáticas parecidas, e em segundo, como explorar o tema amor sem que ele pareça clichê e saturado. De fato, eram desafios difíceis, mas pra quem ouve Travis sabe que eles os encararam com muita competência, tendo a capacidade de fazer até pessoas que não gostam desse estilo de música se renderem à sutileza do som que a banda produz.
Para exemplificar a força da banda, podemos pegar uma música do quarto álbum da banda, chamada LOVE WILL COME THROUGH. De longe, não é a mais famosa deles, nem direi que é a melhor, mas é no mínimo uma grande música, que exibe tudo o que estou falando, desde os violões refinados que são tocados, até a tal sutileza que exala de grande parte das músicas da banda. Quanto à letra, entende-se que há uma pessoa aguardando o amor de outra, pedindo para que seja aceita, pois dessa forma um amor surgirá. Simples, porém, bonita.
Repetindo sempre sua fórmula, criando assim uma excelente identidade, o Travis alcançou um ótimo posto entre as maiores bandas dos últimos anos, embalando momentos de amor, criando trilhas sonoras para casais apaixonados, às vezes te acompanhando em uma “fossa”, tudo isso sem se tornar uma banda enjoativa e desinteressante a cada novo álbum.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Coldplay - Don't Panic


A primeira música do primeiro álbum! Talvez não seja a primeira música produzida, nem a primeira tocada ao vivo, no entanto, é uma das músicas mais importantes da carreira musical de uma boa banda. Muitas vezes, a primeira música tenta retratar uma identidade para essa banda, além de ser um elemento de atração convidativa para aqueles que ouvem pela primeira vez o som produzido no álbum. Todos sabem o poder que uma porta de entrada bonita e elegante tem ao atrair pessoas a um recinto.
Exemplificando, Guns n’ Roses teve como sua primeira música de seu primeiro álbum a famosíssima Welcome To The Jungle. De alguma forma, essa música retrata como a banda de Axl e Slash pretendia encarar o mundo da música em sua carreira, com guitarras pesadas, gritos agudos, solos maravilhosos.
No entanto, para mim, o maior exemplo de música de abertura seria aquela da banda COLDPLAY, a bem sucedida DON’T PANIC. Do premiado álbum de estréia PARACHUTES, os britânicos do Coldplay trouxeram um som que se opõe àquela forte estréia do supracitado Guns n’ Roses, considerando que Don’t Panic conta com uma guitarra apenas para criar um som de base no início da canção.
Um leve violão, um teclado de apoio e a voz de Chris Martin. Foram os elementos que o Coldplay resolveu usar para trazer ao mundo a música de abertura de Parachutes, que em minha opinião, ainda é o melhor álbum deles. Outros singles desse álbum ganharam mais destaques em rádios e televisões, como Yellow e Trouble, isso é um fato, mas Don’t Panic cumpriu com sua função de retratar um pouco do que seria o Coldplay: músicas calmas, muitas vezes tristes, letras aparentemente superficiais, mas que podem ter significados fortes para pessoas que se identificam com o som, batidas gostosas e viciantes.
Talvez simplicidade seja a palavra que resuma essa música, que originalmente se chamava apenas Panic. Os poucos instrumentos usados, e a letra da mesma deixam isso claro. Seu refrão é embalado pro Chris Martin dizendo “nós vivemos em um belo mundo”, enquanto os outros versos retratam um mundo acabado. Simples, não?
Por fim, se a entrada é um ponto importante para atrair pessoas a um recinto, Coldplay conseguiu com pouca poluição atrair milhões de fãs para sua casa, e pode não ser exatamente porque conseguiu uma boa música de abertura (já que futuros singles se tornaram hits fenomenais ouvidos no mundo todo), mas com certeza para aqueles que gostam de conhecer origens e músicas iniciais de uma banda (como eu), não irão se decepcionar com o nascimento de Coldplay.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Radiohead - Karma Police


Ainda me lembro daquele dia, no colegial, quando a professora de inglês pediu para que cada um dos alunos escolhesse uma música, na qual iríamos passar as próximas aulas ouvindo e analisando a letra. Eu, que estava louco para exibir meu OK COMPUTER do RADIOHEAD, escolhi a sexta faixa do álbum, a linda KARMA POLICE. Em casa fui fazer um relatório sobre a letra para entregar na próxima aula. Li a e reli algumas vezes a letra, e a única coisa que consegui pensar na hora é que ter escolhido essa música tinha sido um dos piores erros de minha vida escolar.
Enquanto todos os alunos teriam escolhido letras que transmitiam uma mensagem simples (como, por exemplo, “I will always love you”), eu estava imerso em diversas metáforas e pensamentos complexos encaixados perfeitamente em uma melodia por Thom Yorke e sua turma. Sim, eu dificultei minha própria nota.
Era uma questão de pesquisa, um olhar filosófico e um pouco de viagem para tentar se aproximar da proposta do Radiohead com Karma Police.
Comecei pesquisando sobre o álbum em si, o Ok Computer. Qualquer fã do Radiohead sabe o valor que esse álbum tem, e mesmo quem não gosta da banda, reconhece a importância desse álbum para a indústria musical. Sempre fui viciado nas músicas do mesmo, mas nunca tinha parado para analisá-lo como conjunto: metáforas, criticas, questionamentos, genialidade. Ok Computer coloca o capitalismo na cruz e não economiza pedras para detoná-lo, tudo com a sutileza dos teclados, do violão e da voz de Thom Yorke.
Quanto à música em si, encontrei diversas entrevistas que poderiam ajudar a “desvendá-la”. Na primeira, por Thom Yorke, era dito que Karma Police criticava as corporações. Há sentido, certo momento da letra o eu lírico critica seu chefe, talvez representante da corporação. Em uma entrevista com todos da banda, disseram que era só mais uma crítica ao capitalismo, como em todo o álbum (sabe aquela resposta que a banda dá quando está de saco cheio de perguntas? Então). Por fim, a mais divertida veio por Jonny Greenwood, guitarrista da banda, que disse que a música simbolizava a insanidade, tudo era uma metáfora da loucura, por isso nada fazia sentido na letra. Não deve estar nem perto do que eles realmente pensaram, mas não deixa de ter sido uma análise engraçadinha.
Interessante também é o nome da música. Polícia do carma é praticamente uma piada interna da banda, quando um integrante fazia algo errado, outros brincavam que essa tal polícia iria pegá-lo. Bacana, porém, não consigo imaginar ThomYorke se divertindo com seus companheiros entre piadas no estúdio.
Levei a análise insana da música, reunindo todas essas pesquisas e falando da beleza depressiva da melodia. Como o esperado, todos levaram letras fáceis e por isso, fui o único elogiado pela análise, que gerou um grande debate e uma boa nota para mim. No final, notei que ter escolhido Karma Police me fez aprofundar no Ok Computer, além de conhecer muito mais sobre a música que eu já ouvia há muito tempo, e de sobra levei uma grande nota para a casa. Não, não foi um dos piores erros que já cometi, e sim um acerto tão grande quanto ouvir Radiohead.

veja também sobre radiohead:
- Nude
- All I Need