terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cold War Kids - Hospital Beds



Dizem por aí que as músicas mais chatas e irritantes são aquelas que grudam na cabeça. Eu discordo. Talvez seja verdade que muitas músicas consideradas ruins infelizmente ocupam às vezes um espaço em nossa mente, enquanto lutamos para expulsá-las cantando o refrão de boas músicas na tentativa de substituir Claudia Leite por Guns N’ Roses. No entanto, muita música boa parece ter chiclete em sua composição, grudam em nossas línguas e se repetem por semanas em nosso mp3 mental.
Se há alguma fórmula para uma música se instalar no nosso cérebro por muito tempo, essa eu não sei, mas parece que a banda americana de indie rock COLD WAR KIDS sabe e abusa dessa fórmula. Com seu álbum de estréia ROBBERS & COWARDS, a banda apresentou ao mundo em 2006 uma obra lotada com essas músicas que grudam e monopolizam suas cantorias mentais, e com uma vantagem incrível: as músicas são excelentes!
HOSPITAL BEDS, o segundo single do álbum, é uma prova que Cold War Kids produz músicas com genialidade e a tal fórmula chiclete. Talvez o segredo esteja no ritmo das músicas, sempre marcantes em cada canção da banda, que são assimilados com facilidade pelo ouvinte. Consistem na repetição de um som criado por instrumentos que variam de canção a canção, que se mostram presentes em toda a música. No caso de Hospital Beds, a música é marcada pelo teclado. O mesmo que inicia a canção é uma marca para toda ela, cria todo o clima soturno para a melodia, acompanhado pela voz diferente e ao mesmo tempo bem aceita do vocalista Nathan Willett.
Na letra de Hospital Beds, temos uma persona desesperançosa que descreve em poucas palavras e algumas metáforas como é estar em uma cama de hospital. Pode parecer um tanto doentio uma música sobre essa situação, no entanto a espontaneidade de Cold War Kids permite que eles façam música de diversos assuntos com originalidade.
Talvez as músicas de Cold War Kids não grudem em nossas cabeças devido a alguma fórmula que resulte nisso. Talvez as músicas sejam apenas boas o suficiente para que a gente grude nelas, cantando por repetidos dias refrões como o de Hospital Beds.
“Put out the fire boys, don’t stop, don’t stop”.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Radiohead - All I Need



Falar de amor. Quase toda banda sempre fala de amor. Parece impossível a um músico compor sem citar o amor. Deve ser porque este é o sentimento mais forte que alguém pode sentir, e tal como cada pessoa tem seu modo de expressar o amor, cada banda tem seu jeito de criar baladas românticas.
Já falei de Radiohead antes no artigo sobre a música Nude, no entanto em um fórum da banda onde eu tinha divulgado o texto contestaram o fato de a música ter sido feita há dez anos e eu estar usando-a como prova de que a banda continua proporcionando obras de arte como seu último álbum. Portanto esse artigo fala de uma música legitimamente feita para In Rainbows, ALL I NEED, que por sua vez fala desse assunto saturado para alguns, mas uma fonte interminável de inspiração para outros, o amor.
As baladas românticas, músicas lentas que conquistam popularidade com mais facilidade, variam entre cada banda e não tem uma fórmula que possam defini-la. Uma baladinha de Bryan Adams, por exemplo, é totalmente diferente daquela feita por Radiohead. All I Need pode ilustrar bem esse estilo da banda inglesa de Thom Yorke: as guitarras cumprem um papel de criar um clima pesado e desesperançoso à música, o baixo traz beleza a esta, enquanto a letra diz “você é tudo que eu preciso” de uma forma um tanto depressiva, considerando que se constrói sobre frases como “eu sou todos os dias que você escolhe ignorar”.
Para o final da música temos a ascensão do piano, oculto nas primeiras partes pelos outros instrumentos, mas que aparece para dar outra vida à música, trazer um clima de esperança enquanto a letra finaliza com um aparente contraste que se repete: “Está tudo errado, está tudo certo, está tudo errado...” e assim por diante. Como em todo In Rainbows, a carga metafórica da música é tão alta quanto sua beleza.
Baladas românticas sempre existiram e sempre irão existir para agradar a todos apaixonados e que adoram uma música mais calma. Até mesmo as bandas que fogem do tema “amor”, não escapam de produzir uma baladinha para trazer força ao álbum. E como cada banda produz música de seu jeito, All I Need reforça o estilo de Radiohead para falar de amor. Quando perguntado para um amigo meu o que ele achava dessa música, respondeu de primeira: “meio fraca, esse romantismo está mais para Coldplay”. Eu discordo; afirmo que ela tem um trabalho excepcional na interação entre os instrumentos, traz muita força para In Rainbows, e como cada artista tem seu estilo de fazer baladas, posso duvidar que Chris Martin crie músicas com a letra e a carga angustiante de All I Need, típica de Radiohead.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Arcade Fire - No Cars Go



Estrear no mundo da música com um álbum explosivo, aclamado pela crítica e comprado por milhões de pessoas é uma faca de dois gumes; por um lado é sempre favorável um reconhecimento imediato de sua obra, sua estréia é traduzida em milhares de fãs, apresentações bem sucedidas, aparições significativas na mídia, dinheiro no bolso. Por outro lado, a pressão de que a banda produza um segundo álbum tão bom ou melhor que o anterior é enorme, cria-se uma expectativa que pode terminar em frustração e decepção dos fãs caso o cd seja mediano. Esta pressão foi sentida na pele pelos membros da banda ARCADE FIRE, que depois de produzirem um álbum de estréia genial – o aclamado FUNERAL – a banda canadense teve que provar muita competência para a gravação do segundo álbum chamado de NEON BIBLE.
E conseguiram provar. Embora muita gente prefira o primeiro álbum, Neon Bible não deixou nenhum fã na mão. Lançado em 2007, a obra apenas confirmou o que muitos já sabiam com a chegada de Funeral: Arcade Fire é uma das melhores bandas do circuito indie da última década. Críticos consideram que a banda consolidou o indie rock como gênero musical, junto com bandas como The Shins e Modest Mouse.
Tudo relacionado à Neon Bible é incrível e inusitado. E não falo apenas das músicas contidas nele. Desde a gravação do álbum (feita dentro de uma igreja) à divulgação do mesmo (um site bizarro que deixava um número de telefone onde quem ligasse acabava por ouvir o primeiro single do novo cd) criam uma singularidade encontrada em poucas obras na atualidade.
Quanto às músicas, o que mais deve importar, um prazeroso conjunto de instrumentos inusitados e vozes masculinas e femininas criam um clima soturno, sombrio e alegre simultaneamente ao álbum. Se perguntarem minha opinião sobre qual música representa o álbum, respondo sem pensar: NO CARS GO. O terceiro single de Neon Bible é intenso, bonito e traz uma felicidade àquele que ouve que simplesmente surge com os acordes e a bateria forte da música.
No Cars Go foi baseada no projeto de um ex-membro da banda, Brendan Reed (o qual pode ser encontrado em www.nocarsgo.org), e tal como todas as letras de Neon Bible, sua composição permite diversas interpretações, cabendo ao ouvinte viajar na melodia enquanto sua mente caminha por algum lugar onde não há trens, aviões, naves especiais, navios e – obviamente – não há carros. O piano da parte final da música traz uma estranha sensação de paz que muitas vezes obriga a pessoa que ouve a música a dar um replay na mesma.
Muitas bandas não agüentam a pressão e se perdem na missão de criar um álbum tão bom quanto o seu de estréia. Com músicas como No Cars Go, a banda Arcade Fire cumpriu sua missão com sucesso.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Radiohead - Nude



Radiohead é uma banda que causa controvérsias no mundo da música. Para alguns, é de longe a melhor banda das duas últimas décadas, possui o melhor rock alternativo já feito, e aos mais exagerados, uma das únicas bandas que prestam na atualidade. Para outros a opinião caminha do lado oposto, afirmam que Radiohead é endeusado pela mídia e superestimado por fãs. Opiniões e gosto musicais são discutíveis, mas fatos não. A verdade é que Radiohead – a banda inglesa formada em 1988 sob o nome de “On A Friday” – conquistou milhões de fãs pelo mundo e por onde passa deixa estádios lotados para apreciar sua música.
Em 2007 a banda chegou ao seu sétimo álbum, intitulado de IN RAINBOWS, e se Radiohead divide opiniões entre os admiradores e críticos, “In Rainbows” dividiu opiniões entre os próprios fãs da banda. Enquanto alguns preferem ignorar o álbum sob o pretexto que produzi-lo foi o maior erro cometido pela banda em toda sua carreira, temos inúmeros fãs que dão total apoio ao álbum, para os quais não faltam elogios para descrevê-lo.
Se perguntarem minha opinião sobre esta discussão sou direto: In Rainbows é um dos melhores álbuns produzidos pelo Radiohead. Não é necessário ser um gênio da música para saber que é raro uma banda chegar ao seu sétimo álbum com tanta força e tantas músicas boas quanto os álbuns que a consagraram no auge. No caso de Radiohead, tentam comparar In Rainbows com álbuns fantásticos como “Ok Computer” e “Kid A”, produzidos em 1997 e 2000 respectivamente. Se por um lado In Rainbows não consegue superar seus antecessores, consegue trazer músicas lindas e experimentais com o tempero depressivo que sempre foi uma identidade do Radiohead, como a canção NUDE.
Embora a música supracitada tenha sido tocada ao vivo a primeira vez em 1997, foi aprimorada e selecionada para um álbum apenas dez anos depois, sendo o single mais ouvido de In Rainbows, e o mais aclamado pela crítica. Nude tem um perfeito tom melancólico, com uma carga bem depressiva que pode não agradar àqueles acostumados a canções felizes, mas que afeta o emocional de qualquer ouvinte. O baixo da música é um show à parte; tente ouvir Nude deixando o baixo em primeiro plano e os falsetes do vocalista Thom Yorke em segundo e você notará o poder da música que está entrando em seus ouvidos.
Nude é apenas uma amostra do que o In Rainbows oferece. A canção que diz “não tenha grandes idéias, elas não irão acontecer” é um aperitivo para qualquer um se deliciar com este álbum da banda inglesa, que pode não ser a maior das últimas décadas nem uma banda qualquer superestimada por fãs, mas que no mínimo tem competência para chegar ao sétimo álbum com a vitalidade de uma banda em seu auge.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Athlete - Wires


Não é preciso ser sociólogo para notar que o comportamento de muita gente busca sempre a popularidade. Seja na escola, no trabalho, em alguma festa, ser conhecido e popular entre as pessoas se torna o sonho de uma porção de pessoas, que tentam atrair essa popularidade a qualquer custo, passando a impressão de que para alguém ser bem sucedido, precisa ser conhecido por todos.
No mundo da música aprendemos o quanto essa linha de pensamento é equivocada. Tal como nem sempre os artistas mais ouvidos e discutidos pela mídia são os mais agradáveis aos ouvidos, podemos encontrar entre os artistas desconhecidos verdadeiros tesouros musicais, obras perfeitamente trabalhadas, com a harmonia perfeita entre composição e canção, como uma boa música deve ser.
Se me perguntarem qual meu álbum preferido de música não terei dúvida ao responder: TOURIST, da banda indie ATHLETE. O quarteto inglês formado em 1999 já tem quatro álbuns nas costas com refinadas obras de piano-rock e rock alternativo no geral. Tourist foi o segundo trabalho da banda lançado em 2005, e como abre alas trouxe o fantástico single WIRES.
Wires é aquela música que sensibiliza até os mais fortes, fazendo aquelas pessoas que se entregam facilmente à emoção derramarem lágrimas ao som do teclado que embala a canção. A melodia e a letra trazem uma triste melancolia que juntas trabalham como uma voz na consciência de quem ouve e aprecia o som que lhe faz exclamar “que bela música”. Embora a banda goste de falar de amor, Wires foi escrita pelo vocalista Joel Pott para seu filho que nasceu prematuro, falando sobre a primeira noite de vida desse, e da esperança do pai de ver o filho bem de saúde: "You got wires, going in / You got wires, coming out of your skin”; “I see it in your eyes /You'll be alright”. Iniciei este blog falando desta música do Athlete não em vão: Wires é uma das músicas mais bonitas que já ouvi desde que me conheço como gente.
Athlete é mais um excelente argumento que prova que o reconhecimento não dita se uma banda é boa ou não. De repente nos damos com a sorte de encontrar entre bandas desconhecidas um álbum tão encantador e bonito como Tourist, com músicas perfeitas como Wires, e então temos aquela certeza que o mundo da música não é composto apenas pelos “populares” ou “conhecidos por todos”, mas também por pérolas escondidas como Athlete.